A revisão da lei que determina o horário para carga e descarga na região do centro da cidade foi tema abordado na Câmara Municipal nesta segunda-feira (8). Vários comerciantes estiveram no Plenário a convite do vereador João Gilberto Ripposati (PSDB), que pretende apresentar um Projeto de Lei alterando o horário praticado hoje.
Segundo o vereador, é preciso que todos estejam unidos para buscar uma solução. Um dos principais aspectos levantados pelos comerciantes é a falta de segurança para a realização de carga e descarga apenas entre as 20 e as 6 horas, pois os funcionários ficam muito expostos a ações de marginais.
Entre os convidados estavam presentes Thalita Carla Gonçalves, gerente da Casas Bahia, Claudia Milani Cunha, coordenadora de vendas da Casas Pernambucanas, Marco Túlio Ribeiro Almeida - Proprietário da panificadora Rei do Pão de Queijo, Antônio Marzola, proprietário da loja Mundo da Borracha e Alexander da Silva, proprietário da lanchonete Alex Lanches.
Marco Túlio, que é dono de uma panificadora em frente aos Correios, disse que a medida que será implantada com o sistema BRT, de não poder estacionar na avenida Leopoldino de Oliveira, vai impactar muito no comércio. Ele contou que tem 33 funcionários e que mesmo com as obras do Água Viva conseguiu manter os empregos de todos. Ele pediu ajuda, afirmando não ter quem olhe pelos comerciantes.
Já o comerciante Antônio Marzola afirmou que está no centro de Uberaba há 54 anos e acompanhou muitas mudanças. Ele criticou principalmente o mau cheiro existente na região central devido ao esgoto jogado no córrego da avenida Leopoldino de Oliveira.
Para Alexander da Silva a cidade não comporta um projeto como o BRT, principalmente na região central. Sobre o horário de carga e descarga, além dos estacionamentos na Leopoldino a partir das 20 horas, ele alegou que está sendo muito prejudicado. "Eu tenho uma lanchonete no centro e a falta de estacionamento está trazendo muitas dificuldades", afirmou o comerciante, que também reclamou da instalação das grades na ilha central da avenida.
Alexander ainda pediu para analisar a possibilidade de diminuir um pouco o horário limite de estacionamento. "Não tem onde parar para descarregar as mercadorias, que eu recebo pelo menos três vezes por semana. Isto já está provocando atrasos nas entregas", desabafou o comerciante.
Ripposati explicou que resolveu convidar os comerciantes após ouvir vários proprietários de estabelecimentos. "Eu percebi que a situação não estava em perfeita sintonia, isto sem falar em BRT e mobilidade urbana, e agora o problema se agravou ainda mais", afirmou.
Para o vereador, a proibição da carga e descarga é um dos aspectos que está complicando ainda mais a situação. Ele lembrou que quando foi feita a audiência pública da avenida Fidélis Reis o assunto não foi citado, "na ocasião eu cheguei a alertar os comerciantes, que não se manifestaram naquele momento", acrescentou.
Ripposati continua persistindo na proposta de o município oferecer incentivos para a criação de estacionamentos verticais. "Eu tenho várias propostas de horários, mas entendo que é preciso fazer isto de forma coletiva", avaliou, ressaltando que percebe a dificuldade de receber mercadorias, sem falar na falta de segurança durante a noite na área central.
Melhorias - Para Luiz Dutra (SD), Uberaba precisa de melhorias urgentes na área central. Ele lembrou que já apresentou ao Executivo a ideia de construir edifícios garagem, com a Prefeitura oferecendo isenção do pagamento de IPTU. Ele também se lembrou do pequeno comerciante e a importância da criação de shoppings a céu aberto para incentivá-los.
"É preciso levar outras coisas em consideração, não apenas a carga e descarga. Durante a noite usuários de drogas tomam conta do coreto da praça Rui Barbosa e a prostituição toma conta da avenida Deputado José Marcus Cherém. Eu espero que consigamos melhorar o comércio da cidade", finalizou.
O vereador Afrânio Cardoso de Lara Resende (PROS) destacou que vários comércios, como padarias, terão muitos problemas com as mudanças a serem implantadas ao longo da Leopoldino de Oliveira. De acordo com ele, é preciso ter uma definição e marcar uma reunião com o prefeito, pois entende a preocupação dos comerciantes. "Se eu estivesse no lugar deles também ficaria muito complicado", disse Afrânio.
O vereador ainda comentou ter tomado conhecimento de que o proprietário de uma grande panificadora no centro adiou a abertura de uma segunda unidade no Parque do Mirante por causa dos prejuízos provocados pelas obras do Água Viva. "É preciso tomar uma providência antes que o sistema esteja definitivamente implantado e a situação fique ainda pior", concluiu.
O vereador Paulo César Soares China (SD) também demonstrou preocupação com o comércio na região central que, segundo ele, pode deixar de existir. Ele também pediu que seja marcada urgente uma reunião com o prefeito, lembrando que os bairros estão se fortalecendo com investimentos em áreas comerciais.
Marcelo Machado Borges Borjão (DEM) comentou que já vinha falando desta proibição de estacionamentos há muito tempo. "A próxima vítima será a avenida Santos Dumont, onde os passeios têm quatro metros de largura e se forem reduzidos comporta até mesmo um estacionamento vertical", afirmou Borjão. Ele também disse que o governo precisa ter responsabilidade e ao mesmo tempo criticou a instalação da grade na ilha da Leopoldino, afirmando que a mesma vai é colocar as vidas das pessoas em risco.
Para Samir Cecílio (SD) o que se busca é um entendimento, "e para isso precisa ter diálogo". Ele observou que a Câmara tem uma participação muito pequena nestas ações, que são originárias do Executivo.
Segundo o vereador, os problemas enfrentados pelo comércio do centro não são privilégio de Uberaba. "Eles acontecem em outras cidades e existem casos que houve sucesso e soluções criativas", acrescentou Samir, para quem hoje se tornou problema o que foi sucesso durante décadas.
"As principais avenidas da região central existem por causa dos córregos.
O centro de Uberaba seria muito pouco diferente de uma cidade como Lisboa antiga, por exemplo. Hoje a conta chegou com as inundações, a cidade cresceu e a drenagem superficial não dá conta de receber a água das chuvas", avaliou Samir, acrescentando que a cidade acabou muito dependente destas avenidas, e com isto acabou surgindo a necessidade de outras mudanças, como o BRT.
O vereador defendeu a criação de bolsões coletivos de estacionamentos, utilizando terrenos antigos ociosos, que são possíveis de identificar através de imagens aéreas. "O traçado da cidade não foi planejado. Nós temos um dos maiores índices per capta de veículos por habitante do país, e os números assustam", afirmou Samir.
Para o vereador, a implantação e a acomodação do BRT ainda vai provocar uma série de problemas, uma vez que Uberaba não conta com avenidas próprias para recebê-lo e está sendo feita uma adaptação. "Não é apenas a linha Norte-Sul, tem ainda outros dois eixos e enquanto isto não estiver funcionando não tem como saber como será", acrescentou.
Samir foi ainda mais longe, "não vamos encontrar uma solução que resolva todos os problemas, mas é preciso buscar soluções com um mínimo de razoabilidade e horários que atendam os comerciantes. É preciso buscar soluções razoáveis para ter um mínimo de convivência com o progresso. Tem que haver equilíbrio", concluiu.
O líder do prefeito, vereador Edcarlo dos Santos Carneiro - Kaká Se Liga (PSL), disse ter conhecimento da importância de encontrar uma solução para a questão da carga e descarga, pois os comerciantes precisam receber mercadorias. Ele também adiantou a possibilidade de agendar uma reunião ainda esta semana com o prefeito, possivelmente na próxima sexta-feira (12).
Kaká afirmou, ainda, que a proposta do vereador Ripposati de alterar o horário é bem vinda e será apresentada através de um Projeto de Lei assim que todos chegarem a um consenso sobre o melhor horário.
O presidente do Legislativo, Elmar Goulart (SD), comentou que o prefeito já deixou bem claro que não quer prejudicar o comércio. "Eu entendo que é uma obrigação do Poder Legislativo ficar ao lado e defender os comerciantes", ressaltou Elmar.
Segundo o vereador Franco Cartafina (PRB), o desenvolvimento está chegando e todos estão pagando a fatura, vivendo este momento de transição. "É preciso buscar uma sintonia juntamente com o poder público, pelo desenvolvimento da cidade, nunca esquecendo o trabalho dos comerciantes. Temos que buscar o quanto antes uma solução positiva, para que todos possam ter tranquilidade para continuar a trabalhar", afirmou.
Já o vereador Samuel Pereira (PR) lembrou que o projeto dos dois terminais de ônibus e os subterminais da Lepoldino foi buscado por ele e o ex-vereador Almir Silva na cidade de Curitiba (PR). Ele aproveitou para esclarecer que o projeto original não tinha a grade instalada na avenida.
"A cidade está crescendo e merece um transporte viável para a população, mas sem atrapalhar o comércio", disse Samuel, lembrando que a controvérsia ocorrida na última alteração do horário de carga e descarga, quando alguns comerciantes reclamavam do horário anterior.
"Se hoje o horário precisa de uma revisão, nada mais justo que um novo projeto seja encaminhado a esta Casa", concluiu o vereador.
Ismar Vicente dos Santos Marão (PSB) falou sobre as grades da Leopoldino, destacando que se com elas as pessoas estão atravessando no lugar errado, sem as grades ia ser perigoso do mesmo jeito. Ele espera que a reunião com o prefeito seja marcada o mais rápido possível para resolver a situação dos comerciantes.
Ao final da participação o presidente Elmar disse que uma alternativa precisa ser encontrada da melhor forma possível. "Eu tenho certeza de que os comerciantes não serão deixados na mão", finalizou.