As estratégias técnicas de aceleração efetiva da vacinação foram discutidas ontem (07) durante sessão plenária da Câmara Municipal destinada a apresentação de requerimentos e indicações. Esteve presente na reunião para falar sobre o assunto a representante do Movimento Uberaba Pró-Vacina, psicóloga Liliane Cristina de Além-Mar e Silva, a convite da vereadora Luciene Fachinelli, que explicou que o Movimento Uberaba Pró-Vacina iniciou na cidade perante a necessidade da população uberabense de lutar pela correta aplicação do Plano Nacional de Imunizações, cujo o não cumprimento estava colocando em risco o processo de vacinação contra a Covid-19 na cidade. “Começou como um movimento de profissionais de saúde e hoje se caracteriza como movimento popular da coletividade local pela vacinação correta de toda a população”, esclareceu a parlamentar.
Liliane Cristina, que também é mestre e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e Universidade de Toronto, contou que de forma organizada, exigindo transparência do sistema de vacinação na cidade e com o objetivo de se conquistar a imunização para cada trabalhador da saúde, o movimento em poucos dias obteve retornos. “Em quatro semanas completamos a primeira dose de vacinação de aproximadamente 20 mil trabalhadores da saúde de Uberaba - ainda que não tivesse em Uberaba remessas de vacina específicas para esse público. A trajetória de nosso movimento nos ofereceu mais dados confiáveis e respostas que os canais de informação de dados oficiais da prefeitura, visto que, diante de várias tentativas, nunca obtivemos retorno de ofícios enviados por diversos meios à gestão municipal. Chegamos a estar presencialmente com a prefeita e equipe técnica de vacinação municipal no dia 31 de maio. Éramos profissionais da saúde com formação em saúde pública ofertando, voluntariamente, nosso apoio, trabalho e conhecimento em prol do momento pandêmico em nosso município. Ambos, prefeita e servidores presentes, comprometeram-se a permitir nosso acompanhamento próximo ao processo de vacinação, assinaram ata afirmando o mesmo, mas continuaram não cumprindo tal acordo, e seguimos até o momento com dificuldades em acessar dados transparentes e atualizados”, destacou.
Liliane apresentou dados pandêmicos de Covid-19 nacionais e de Uberaba e alertou ser muito preocupante a situação na cidade. “Domingo (04/07), o Brasil demonstrou indicadores que se comparados aos de Uberaba, deixa-nos muito preocupados, pois estamos muito acima dos números
nacionalmente esperados. A taxa de letalidade no Brasil é de 2.8%, enquanto Uberaba apresenta porcentagem de 3.39%; com relação à taxa de mortalidade o país apresenta os seguintes números: 249.5/100.000 habitantes e Uberaba: 339.3/100.000 habitantes; a taxa de incidência no Brasil: 8.931,7/100.000 habitantes e Uberaba: 10.042,3/100.000 habitantes. Assim sendo, em Uberaba, durante essa semana, a contaminação foi maior que em todo o Brasil. Aqui morre-se mais de Covid que em todo o país.”
De acordo com estudo realizado pelo Movimento Uberaba Pró Vacina, os números de casos confirmados de Covid na cidade aumentaram exponencialmente no final de fevereiro deste ano. “Foi publicado um decreto pela prefeitura, no dia 07 de março, proibindo atividades socioeconômicas, eventos, visitas sociais, atividades esportivas, bem como aulas presenciais em instituições de ensino. Na semana seguinte a estas medidas, o número de casos confirmados em Uberaba caiu de 885 para 685, evidenciando o impacto positivo da gestão enquanto influenciadora e formadora de comportamento coletivo e do distanciamento social para a redução da transmissão do vírus. Apesar da resposta positiva às medidas de distanciamento social, e por causa dela, entendeu-se estar confortável para flexibilizações, e, na semana seguinte, em 13 de março, foi publicado outro decreto permitindo práticas de esportes em clubes, funcionamento de salões de beleza, parques e praças, instituições religiosas e feiras livres. Com a redução das medidas de distanciamento social, o número de casos confirmados voltou a subir na semana seguinte, onde o número de resultados positivos para o vírus foi de 1143. Na última semana, obtivemos a marca de 839 novos casos confirmados, o que indica queda devido à evolução da imunização da população de Uberaba. No entanto, esta queda é menor do que a esperada, visto que, por um lado a vacinação acelerou, por outro lado ela está incompleta na maioria dos vacinados de primeira dose, e as medidas de distanciamento social têm deixado a desejar. Destaca-se também o risco no aumento da circulação de novas variantes do vírus”, ressaltou.
Discute-se agora, segundo Liliane, o inverso do distanciamento social através do retorno presencial às aulas “enquanto não se percebe cuidados com a imunização completa de professores, que ainda não receberam sequer sua segunda dose vacinal, também não se vê obras ou divulgação de valores investidos para adequações estruturais das escolas para as necessidades sanitárias atuais. Foi publicado recente estudo em nosso estado, realizado em parceria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e a Universidade da California San Diego (UCSD), através da utilização de um grande banco de dados coletados por profissionais da linha de frente do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos hospitais particulares. Foram 11.613 crianças e adolescentes hospitalizados por infecção pela Covid confirmados entre
março de 2020 e janeiro de 2021. Como resultado, Eduardo Oliveira, pediatra e professor titular do Departamento de Pediatria da UFMG, descreve que: A Covid-19 em crianças e adolescentes era considerada não preocupante na maioria dos casos, no entanto nos deparamos com uma proporção de casos de morte durante a internação hospitalar praticamente oito vezes maior do que o esperado. No final de janeiro, uma revisão sistemática feita em 138 países colocou o Brasil como o país com a maior taxa de óbitos de jovens por Covid em todo o mundo.”
Por fim, a psicóloga apresentou ações efetivas para o prosseguimento do combate seguro e economicamente responsável à Covid na cidade, tomando por base princípios científicos. “É preciso acelerar a vacinação por faixa etária (Xepa + Repescagem aos sábados); impor medidas preventivas não farmacológicas com fiscalização intensa e cada autoridade ocupando de fato a sua responsabilidade educativa e formadora de comportamento comunitário; lockdown de três semanas e plano de suporte econômico para pequenos empresários durante esse período; e criação de um auxílio emergencial municipal, como temos os exemplos de sucesso nas cidades de Araxá e Sacramento. Abrandemos a terceira onda que está por chegar, caso ignoremos todos os fatos aqui apresentados, repetiremos os mesmos erros já cometidos antes e todos os esforços por parte de todos os profissionais da saúde, de março de 2020 até aqui, serão perdidos, além de todas as medidas para adaptação e fortalecimento da economia, já que consequências a longo prazo podem ser mais permanentes e mais danosas do que as que estão sendo levadas em consideração no momento”, finalizou.
Jorn. Karla Ramos
Dep. Comunicação da CMU
08/07/2021