Reunião Pública – Hospital Regional
Câmara cumpre seu papel e dá voz a dúvidas da população
A Reunião Pública promovida ontem, pela Câmara Municipal de Uberaba, atingiu seu objetivo, de acordo com o vereador João Gilberto Ripposati (PSDB) autor da iniciativa, apoiado pelo colega, vereador Carlos Alberto de Godoy (PTB). “Nossa intenção era mostrar para os técnicos as dúvidas da população e tentar esclarecer. Sendo uma obra do Governo do Estado com a Prefeitura, a Câmara não tem poder de decisão, mas cumpriu o seu papel constitucional ao dar voz a população, através de uma reunião pública”, avaliou Ripposati.
Para Godoy, ao dar oportunidade para que a população se manifestasse a Câmara cumpriu seu papel em prol do povo e pela coletividade. O engenheiro João Eurípedes Sabino, novamente (como em participação em reunião ordinária) se posicionou contra a construção do Hospital Regional, ao lado do Cemitério São João Batista. Ainda ao usar da palavra externou sua insatisfação por não poder usar um ator para apresentação teatral na reunião. Lembrando que o tempo era exíguo para a quantidade de pessoas e também pelo tema da reunião, o vereador Godoy, presidente da Comissão de Cultura, afirmou que a Casa não se opõe a ações culturais, mas lembrou que o tema era prioridade e que em um evento cultural que, por acaso a Câmara fosse fazer, a apresentação seria bem vinda. Sabino pode entregar um livro aos participantes, denominado “Porque sou contra e a favor da construção de um hospital?” explicou que além da possibilidade de contaminação com necrochorume, havia ainda a preocupação com a questão emocional dos pacientes por estarem em um hospital tão próximo ao cemitério.
Geólogo – O geólogo Léziro Marques Silva, que atua a 40 anos nesta questão, tendo em seu currículo a avaliação de 1.250 cemitérios no mundo inteiro, sendo o criador da denominação “necrochorume”, foi taxativo ao explicar que não existe contaminação de necrochorume em Uberaba. “O escoamento que passa no cemitério é diferente do que passa no hospital. Tem 65m de solo arenoso, o balsalto não tem falhas é compacto. Não existe necrochorume e mesmo se houvesse a depuração natural é tão eficiente neste solo que seria rápido, secando em 14h”, explicou.
O geólogo destacou ainda que no Brasil o gerenciamento de cemitérios se dá por normas rígidas. Ele revelou que São Paulo gerencia 43 cemitérios utilizando um absorvente de necrochorume, sendo que o Brasil é pioneiro e exporta tecnologia através da Cebesp. “Levamos tecnologia para a Líbia, Europa e vários outros Países. Tenho que reconhecer que o governo municipal está tomando as medidas preventivas. O fato de eu estar aqui é uma prova disso, visto minha experiência em avaliar mais de mil cemitérios. Não tenho dúvidas, não existe necrochorume na vertente do Hospital Regional a ser construído em Uberaba”, garantiu.
Engenheiros – Discordando dos argumentos de Sabino, o engenheiro Paulo Veloso Rabelo, afirmou não ter base técnica para falar da contaminação, mas queria saber se nas comunidades no entorno do cemitério, cidadãos vieram a óbito devido à contaminação. Em sua avaliação a topografia do hospital é diferente do cemitério, com solo arenoso que em período de chuva rapidamente evapora, além de que a mobilidade de uma bactéria é de dois metros. Já o engenheiro Lázaro Elveci, foco sua fala no gerenciamento de risco. Ele lembrou que toda atividade envolve risco, inclusive na construção de hospital. Como exemplo, ele citou antenas, postos de gasolina, falta de alarmes de incêndio em instituições hospitalares, entre outras questões. “Temos vários riscos em qualquer atividade que formos fazer. A chance de um posto de gasolina explodir é igual à de uma descarga de 100 mil volts. O trânsito é um risco. O que temos que fazer é colocar técnicos e especialistas para gerenciarem estes riscos”, afirmou.
Obra – No tocante ao projeto do Hospital, tanto o secretário de Planejamento, Karim Abud Maud, quanto o de Saúde, Valdemar Hial, explicaram que foi concebido com as técnicas mais modernas. Karim garantiu que as janelas do hospital não serão viradas para o cemitério, tendo uma concepção moderna, sendo o único com UTI com luz do sol. Está previsto estacionamento para visitas, servidores e pacientes. Para Karim, “em se tratando do projeto do Hospital Regional, a política não venceu a técnica, visto que é um projeto para que o povo ganhe. Estamos pensando Uberaba para 2020 com 500 mil habitantes”.
Hial, ressaltando sua experiência de 50 anos no âmbito da saúde, sendo fundador de vários cursos de Medicina no Estado, garantiu que neste momento o hospital regional está para ser construído no local certo e que daqui a 40 anos, com certeza outros já terão sido construídos em outro local, como por exemplo, após a BR 050, nas imediações do Pacaembu, Jardim Copacabana. “Quando construí o ambulatório Maria da Glória falaram que era um elefante branco, hoje está pequeno. Aquela região precisa de instituições de saúde, pois está crescendo para aquele lado e com certeza, vai precisar de mais no futuro. Precisamos de mais hospital e não podemos perder este. Estamos tranqüilos em relação à questão de trânsito, contaminação e emocional. Nos preparamos para isso e fizemos todas as averiguações necessárias”, afirmou.
Mais de 100 pessoas participaram da reunião, sendo populares, representantes de Entidades Classistas, Sindicais, de Associação de Bairro, Associações Filantrópicas e de Assistência Social, Conselho Municipal de Saúde, Ministério Público, Gerência Regional de Saúde, Secretaria Municipal de Planejamento e de Saúde, Instituto de Engenharia e Arquitetura, Representantes de Instituições Hospitalares, Fabu (Federação das Associações de Bairro) e moradores do bairro Tutunas, Mercês, Pacaembu, Beija-Flor e Morumbi. Também participaram os vereadores José Severino Rosa (PT), Lourival dos Santos (PCdoB), Samuel Pereira (PR), Itamar Ribeiro de Rezende (DEM), Cléber Cabeludo (PMDB) e Marcelo Machado Borges, o Borjão (PMDB).
Apelo – Ao final da reunião, o secretário Karim fez um apelo a Sabino. “Nos deixe trabalhar para Uberaba. Queremos seguir em frente pela saúde da população”, disse. Respondendo Sabino afirmou que não estar mais nas mãos dele, visto que o inquérito já está com o MP.
Posicionamentos:
Carlos Valera (Promotor) – Informou que está no Ministério Público um inquérito civil de autoria do Engenheiro João Eurípedes. “O inquérito está em Belo Horizonte para que um corpo técnico faça a análise. Estamos zelando pela legalidade, seja de ordem urbanística, ambiental e de saúde”, afirmou o promotor.
Leuces Teixeira (Vice-presidente da OAB) – Falou da importância do evento e validou a fala do promotor Varela. Para Leuces, “como cidadão, além das questões técnicas, acho que seria interessante uma consulta popular. O Poder emana do povo e uma consulta atenderia a comunidade. Agora, sugiro que não deixem desaguar no judiciário, pois senão a obra não sairá”, disse.
Dr. José Natal (Gerência Regional da Saúde) – Para o médico é necessário que Uberaba crie mais leitos e, por isso, foi feito o projeto e colocado orçamento para isso. “A Vigilância Sanitária Estadual já deu o parecer favorável. Espero que esta situação se resolva, pois corremos o risco e perder este recurso e a população uberabense precisa deste hospital”, afirmou.
Valdemar Hial (Secretário da Saúde) – O projeto, segundo ele, é para atender urgência e emergência. Ele lembrou que, com a greve dos residentes, as UPAS’s estão ainda mais cheias. “Ou seja, precisamos mesmo desta unidade. Em uma situação com esta, o pronto socorro do Hospital de Clínicas, fica complicado e é para as instituições de saúde municipal que as pessoas recorrem. Além do hospital regional, lá também será construído uma Unidade de Especialidades e uma Unidade Matricial”, explicou.
Marcelo Machado Borges, o Borjão (Vereador) – Para o vereador a iniciativa de Ripposati e Godoy estava em consonância com a vontade da população. Ele afirmou ser um dos primeiro a ser contra a instalação do hospital naquele local. “No entanto agora, não podemos perder esta verba. Esta discussão já gerou até tensão entre o prefeito licenciado e o em exercício. Não adianta ficar dando muro em ponta de faca. Agora temos é que usar a verba que já está com o município”, avaliou.
Cléber Cabeludo (Vereador) – O vereador afirmou que, em sua avaliação, com a Reunião Pública, os cidadãos estavam tendo a oportunidade de entender sobre o necrochorume, haja vista que uma das pessoas mais capacitadas para falar sobre o tema estava presente. “Pelas explicações que recebi entendo que não há prejuízo para a comunidade. Espero que o hospital seja construído o mais rápido possível, pois a população precisa”, disse.
Itamar Ribeiro de Rezende (Vereador) – Itamar parabenizou Ripposati e Godoy. Ele esclareceu que a aprovação do projeto pela Câmara de concessão de área para a construção do hospital, foi motivada, justamente, pela necessidade de se implantar em Uberaba mais instituição hospitalar. “Votamos em prol da saúde. Acho que temos que avaliar não apenas a questão geológica, mas também emocional. Também tem um posto de gasolina do lado. Entendo que o fluxo de veículo pode causar transtornos. Inclusive entendo que o prefeito deveria estar presente a esta Reunião Pública para dar sua opinião, já que ele é que não aceita uma possível mudança. Temos áreas que poderiam ser usadas sem prejuízo”, avaliou.
Samuel Pereira (Vereador) – Samuel fez coro com Itamar, ao afirmar que os vereadores favoráveis à matéria, pois era recurso para a saúde. “Não tínhamos informações sobre questão geológica e nossa intenção era de ver o povo de Uberaba e Região serem atendido quando for necessário”, destacou.
Lourival dos Santos (Vereador) – “Tem famílias que moram no entorno do cemitério a mais de 50 anos e tenho buscado informações junto a comunidade, sobre a possibilidade de alguém ter sido contaminado. Ninguém nunca ouviu falar de alguém ter ido a óbito por causa disso. Votamos a matéria para não perdermos a verba e garanto que não houve outro motivo. Temos que ter em mente que Uberaba precisa, urgentemente, deste hospital”, afirmou.
Jurandir Ferreira (Vice-presidente Conselho Municipal da Saúde) – Destacou a importância da iniciativa, lembrando que é importante tentar dirimir as dúvidas, esclarecendo a população. Ele lembrou que antes o projeto era para ser um Hospital Municipal, mas que o conselho lutou e conseguiu transformar o projeto em Hospital Regional. O conselho, explicou, fez parte da comissão solicitada pelo Estado e, por várias vezes, o projeto foi discutido, analisado e adequado, antes da aprovação. “Nossa preocupação, agora que está sub júdice, é com o dia-a-dia. E a população não pode mais protelar, se está correto tecnicamente. Vamos ter a abertura de mais leitos na UFTM, visto que o hospital de Clínicas será transformado em maternidade. Também já solicitamos o estudo de Leis de instituições filantrópicas que recebem benefícios, mas não atendem pacientes do SUS, apenas particulares. São questões que estamos avaliando em buscar de mais leitos também”.
Claúdia Sadú (Federação das Associações de Bairro de Uberaba)- Segundo a presidente da federação, foram encaminhados mais de 80 e-mails questionando a construção do hospital regional próximo ao cemitério. De acordo com Sadú, 68 responderam favorável. “Sou nascida e fui criada ao lado do cemitério da Consolação em São Paulo e até hoje não tive nada. Sou a favor da construção do hospital, conforme está o projeto. Não acredito que as autoridades se arriscariam a construir em um local que prejudicaria a população”, afirmou.
Emerson de Paula (Associação de Bairro do Tutunas) – “Estou vivendo na prática um processo democrático ao participar desta reunião. Eu moro a 30 anos no bairro Tutunas. Informo que no bairro Grande Horizonte e na Fazu tem poço artesiano e em 30 anos nunca ouvir falar de problemas de saúde ligados a contaminação do cemitério. Trabalho no Corpo de Bombeiro e aquela localização permite um acesso rápido a rodovias e lembro que será um hospital regional. A grande maioria da população aprova a construção, pois o que nos preocupa mesmo é a criação de mais leitos e ampliação do atendimento na área da saúde”, afirmou.
Karim Abud Mauad (Secretário de Planejamento) – “Garanto que tivemos todos os cuidados, inclusive com a possibilidade de ampliação, pensando no futuro. Quem quiser conhecer, detalhadamente, o projeto estamos a disposição para mostrar e esclarecer quaisquer dúvidas”, disse. No tocante ao trânsito, Karim lembrou que emergência não se dá na porta do hospital e sim no centro da cidade. “E é por isso que a prefeitura contratou o mais importante urbanista do Brasil. Vamos mudar o trânsito da cidade, justamente, devido a seu crescimento. Uberaba é a cidade das sete colinas e, infelizmente, não foi planejada. Mas estamos trabalhando para mudar isso e com certeza teremos sucesso”, avaliou.
Marcelo Alexandre (morador do Boa Vista) – Demonstrou ainda, preocupação com a questão geológico, no que teve garantindo pelo geólogo a ausência de problemas. Também afirmou estar preocupado com as questões de trânsito visto o grande fluxo de veículos na cidade.
Marcelo Augusto Carvalho (setor Veterinário) - Falou do crescimento de Uberaba e da necessidade de se pensar Uberaba para daqui a 40 anos.
Carlos Fernando da Silva (Ex-vereador de Guarulhos) – Sugeriu que a prefeitura apresentasse o projeto para os sistema viário em frente ao Hospital Regiona, para que a comunidade esclarecesse as dúvidas.
Renato Maia (Representando bairros como Pacaembu, Morumbi e outros) – “Sempre morei no Tutunas e, inclusive, trabalhei no cemitério, ajudando nas exumações. Quando criança brincava lá, passei por enxurrada do cemitério e nunca tive nada. Uma hora o povo fala do trânsito, outra hora de posto de gasolina, de contaminação. Quero dizer é que o hospital e as unidades de saúde serão bem vindas. A cidade está crescendo para aquele lado e o povo precisa de um ponto de apoio na saúde naquela região. De lá não temos nada, enquanto outro bairros tem”, desabafou.
Celso Borges (jornal A voz) – Afirmou estar preocupado é com as questões emocionais, principalmente de idosos que serão internados no local, nas proximidades do cemitério.
Silvano – “A questão não é de quem sabe mais ou mesmo. Tem que se olhar para a população, criar mais leitos agora”.