A data pretende conscientizar as pessoas sobre o problema, que atinge um em cada mil recém-nascidos
Proposta do vereador Ismar Vicente dos Santos “Marão” (PSD) foi aprovada pelos vereadores durante reunião ordinária desta terça-feira (20). A alteração acrescentou dispositivos à Lei Municipal número12.608, de 17 de maio de 2017, que “Dispõe sobre a Consolidação da Legislação Municipal do Calendário Popular”. Com a mudança, o Dia Municipal do Pé Torto passa a ser comemorado anualmente no dia 3 de junho.
O Pé Torto Congênito (PTC) é o distúrbio mais comum do aparelho musculoesquelético, afetando um em cada mil recém-nascidos. Embora a causa do PTC ainda seja desconhecida – apesar de evidências apontarem para uma associação de fatores genéticos e ambientais – o diagnóstico pode ser feito ainda durante o pré-natal, por meio de exames como o ultrassom morfológico. O tratamento é bastante eficaz, especialmente se for iniciado nos primeiros meses de vida, proporcionando um desenvolvimento normal ao portador da deformidade.
O ortopedista pediátrico Wander da Silva Carvalho, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), assim como a enfermeira Juliana Saraiva, participaram da reunião.
Segundo o médico, se trata de uma patologia, uma doença peculiar na infância, mais comum em meninos. Ele explicou que o Hospital de Clínicas abrange uma área de aproximadamente um milhão de habitantes, recebendo crianças até mesmo do Norte de Minas e Alto Paranaíba. Uma média de 300 pacientes são atendidos por semana no ambulatório de ortopedia da UFTM .
Wander Carvalho disse que a doença pode ser congênita ou postural, sendo patologias diferentes. O tratamento é feito com troca de gesso semanal, durante três meses, com uma grande interação entre o médico e a família. Uma média de 2 mil crianças já foram tratadas, com cerca de 90% de bons resultados. “É um tratamento pessoal, muito peculiar, onde o médico tem que estabelecer uma comunicação intrínseca com a família”, afirmou o médico.
O ortopedista disse, ainda, que de acordo com a correção, a criança usa uma órtese, que está disponível na rede pública, até os 4 anos de vida. “Eu acredito na necessidade de programas feitos junto à população, para chamá-la para os médicos”, acrescentou. O profissional também apresentou alguns casos tratados na cidade, que tiveram ótimos resultados.
Juliana Saraiva, que teve um filho com o problema, agradeceu aos vereadores pelo apoio a causa. Ela comentou que apesar de ser comum, ao mesmo tempo a patologia é tão desconhecida.
A enfermeira contou que aos seis meses de gestação teve o diagnóstico de pé torto congênito no bebê que esperava. “Foi um susto muito grande”, afirmou Juliana, destacando a importância da interação entre o médico e a família.
Ela lembrou que a técnica é utilizada há 30 anos e está disponível pelo SUS. “A intenção é conscientizar a população, pois o problema é reversível e se não for tratada, a criança sofrerá problemas no futuro, inclusive de bullying”, alertou Juliana.
Ismar esclareceu que o projeto já está adequado as novas normas do calendário do Município. “O objetivo é de alertar a população para o problema e que existe tratamento”, justificou o vereador.
O vereador Samuel Pereira (PR) destacou a importância do projeto, pois até ele mesmo desconhecia o trabalho realizado pelo HC. “É preciso levar aos pais informações sobre o tratamento”, acrescentou.
O vereador Alan Carlos da Silva avaliou que o projeto é extremamente importante para as crianças. “Quantas crianças não são vítimas de bullying, por terem sido vítimas de uma falha de diagnóstico?”, questionou. Para Alan Carlos, é preciso orientar as equipes de Saúde da Família, para que tenham condições de ajudar a diagnosticar o problema e encaminhar para tratamento.
O tratamento - Até meados da década de 1940, o tratamento do PTC era realizado com cirurgias extensas e complexas, sendo inacessível à maior parte das crianças. Foi quando o ortopedista espanhol Ignácio Ponseti desenvolveu um método de correção do PTC com base na compreensão do mecanismo causador da deformidade e no poder de remodelação do esqueleto imaturo do bebê.
O método Ponseti consiste em recuperar o eixo de crescimento normal do pé por meio de manipulações suaves e da utilização de um aparelho gessado, que auxilia na remodelação do esqueleto do pé do bebê. Em alguns casos, além desse tratamento, também é necessário fazer uma cirurgia do tendão de Aquiles para completar a correção.
No Brasil, temos aproximadamente 3,5 mil novos casos por ano, mas não há uma política pública de atenção ao PTC e a deformidade nem consta nas pautas de planejamento das secretarias de Saúde do país. Para piorar, os poucos centros de tratamento existentes têm problemas de infraestrutura.
O Hospital Universitário (HU) começou a tratar o PTC pelo método Ponseti em 2002, com uma equipe composta apenas por uma ortopedista e uma técnica de gesso. Após cinco anos de funcionamento, o ambulatório não conseguiu superar as dificuldades encontradas – como o alto percentual de desistências e de reaparecimento da deformidade após o tratamento – e teve de suspender suas atividades.
Em 2010, o ambulatório foi reaberto por uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais da área de Enfermagem, Serviço Social, Ortopedia e Fisioterapia. O processo foi dividido em etapas e cada uma foi direcionada ao profissional com a formação e a capacitação mais adequada para a sua execução.
Com esse novo modelo, o número de recidivas e de abandonos de tratamento diminuiu em aproximadamente 80%. Hoje, o ambulatório possui 170 crianças de 0 a 5 anos em tratamento e tem capacidade de receber 30 novos casos por ano.
No dia 3 de junho é comemorado o Dia Mundial do Pé Torno. A data foi escolhida pela Ponseti Internacional Association (PIA), em Homenagem ao dia do nascimento do médico Ignácio Ponseti (1914-2009).
Jorn. Hedi Lamar Marques
Departamento de Comunicação CMU
20/06/2017